domingo, 12 de outubro de 2014

fujo de mim

pela noite dentro
voltas e voltas na cama
preso nesta febre
que me ferve o sangue

amordaçado em mim
nesta carne que não sinto minha
um refugio noutras horas
um refugo por hora

manicómio de quarto!
pele qual camisa de força

à minha mínima distração
aproveito
fujo
fujo de mim

ainda grito
mas já vou longe
já não me apanho

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

caterva

a comitiva aperaltada
altivamente empinada
desfila
rua abaixo
rua acima

na eminente queda
tal o empenho no empinanço

relincham

neste vai e vem
nem se apercebem
que pisoteiam defecações viventes
vigentes agora nas solas
de alguns sapatinhos milenares

que

acenam e chamam
para que estes olhem
fazem gestos obscenos e vaiam

"lá vão os bandidos!"
"lá vão esses filhos da pvta!"

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ainda os mortos

acordei no meio de nenhures
algures nos sonhos mortos
dos que já não são

lúcido encontro conhecidos
que se limitam a tactear
gemendo paredes acima
levando sentimentos escuridão abaixo

buscam a quem se agarrar
no intento da supressão
de "nem que seja uma réstia de vida"
como eles gemem

os de cima os chamam pelos nomes
apelidados de "foste embora"
pese embora que os que chamam
tanto ou mais perdidos
estão como os defuntos

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

criador

crio personagens
chego-lhes sonho
e passo a passo
se afastam de mim

correm já
fugiram
cuido que lhes cheguei sonho a mais...

terça-feira, 17 de junho de 2014

dependurado

pendurado no tecto
esticado
o fio
de vida
nem um movimento
minto,
a janela aberta
a brisa
faz-te dançar
timidamente

objecto, abjecto
grotesta visão
candelabro macabro
não há vida
nesta sala velha
desta velha casa
(escuras)

o teu vulto dança
pareces vivo
mas não estás
"interruptor"
vida!
voltaste meu velho...

quarta-feira, 19 de março de 2014

sábado, 15 de março de 2014

malabares

intento malabares
demasiadas esferas no ar
não dessedentando a dificuldade
possuem demasiadas cores refractadas
iludido pelas demasiadas
surge o som dos pongues pelo chão
espaçados largamente
em gradual momento se tornam
em episódios curtos de som
levando o espaço
ao silêncio absoluto

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

desmatéria

na matéria turva da multidão
defines-te como um ponto breve
um ponto celeste
ascendente suga-te um feixe de luz
primordial, quente

sob teus pés
revela-se um báratro de fogo
chamas claras e claramente altas
consomem-te a pele
a matéria borbulha
crepita e desvanece
dando lugar a cores
transcendentemente belas
eis a tua desmaterialização

lupus

um lobo de estrelas, um lobo cósmico
atravessa o céu por entre constelações
como um brigue, surcando por entre as calotas glaciares
fá-lo a guardo da noite, o dia já não o aquece
não estás lá, para te beber da luz que o conforta