terça-feira, 23 de julho de 2013

amendoada

trago teu cheiro amendoado
entranhado no pensamento
acordo e escondo-me
ao ver a miragem
a tua silhueta a meu lado
enterro a cabeça na almofada
e parece que te cheiro
queria poder ficar aqui
a cheirar-te eternamente
enterrado nesta almofada
de cheiro a amêndoa doce

segunda-feira, 22 de julho de 2013

tio carrossel

gira sobre si mesmo
o tio carrossel
seus longos braços
tocam montanhas
mares também

se saia o tio tivesse
seria mulher
em baile de aldeia
se sete saias o tio tivesse
seria da nazaré
e teria percebes
os mais frescos da alvorada

sexta-feira, 19 de julho de 2013

tríade

o contraste das cadeiras
fortes,
com as pessoas sentadas
frágeis,
vultos quase transparentes
de tão fracos
quase a desaparecer

-

leio e releio
uma e outra vez
estou preso a esta página
tenho medo, receio
do que o movimento
me traga,
no texto
a mãe pergunta
filho,
que estás a fazer?
e ele responde
na última linha
mãe,
escrevo a minha carta...

-

come a salada
não posso
a cebola fala comigo
e o tomate?
o tomate posso
é mudo
e a cebola não gosta lá muito dele

o pepino
esse nem olha

sexta-feira, 12 de julho de 2013

em catadupa

a lágrima que em catadupa abandona o canto do olho
para no fim já sem vida ir morrer ao canto da boca

certos sentimentos são salgados e este como se tivesse toda a água dos oceanos
meus lábios rebentados ardem e preferia já não os ter se já não beijam os teus

quinta-feira, 11 de julho de 2013

estuque


ombro deslocado
do pequeno anão
que te vive na massa cinzenta
azul pintada por ele
com balanço corre
e bate violentamente
com o ombro
no interior da casa-crânio
edificada juntos

bate que bate
mas o ombro não retorna
ao seu indivíduo lugar
bate que bate
e o estuque
vai caindo no chão
não havendo ninguém
para o varrer

mesmo que o alguém haja
não há debaixo do tapete
para onde se varra