quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

a rua é larga

encontrão daqui
pisam-me dali
sem dar conta sou levado
pela torrente de corpos
hipnotizados quiçá telecomandados
por seres que habitam
estes monstros
de ferro e betão
que me rodeiam
e que me encurralam o Ser

a rua é larga
mas torna-se estreita
quando tanta gente a frequenta

la santa compaña

qualquer dia
vêm bater à porta
nem que sexa a morte

din que
batendo três veces
com a fouce
sendo o terceiro
com mais forza
é esse o sinal

com esta sequência
xa sabemos o que esperar
e baixando a cabeza
á fila de almas
que espera
pairando lá fóra
nos xuntamos
sem querer saber
o que dali esperar

não é a hora

uma velhota
bem velhota
mãos unidas, reza
ajoelhada, reza

reza para mais
não se aproximar
a morte

mas a morte
não se detém
e cada vez
mais perto

a velhota
reza, agora
reza, aos soluços

a morte
pára, não é
a hora da
velhota, a morte
a foice não afiou

embrião

baloiça na cadeira
sem saber que no ventre
o embrião da morte carrega
pútrido

e o silêncio

apenas cortado
pelo calmante
e bastante terapêutico
silvar do vento latente