domingo, 6 de maio de 2012

deito-me

deito-me e levanto-me
faço-o todos os dias
mas naquele dia não
deixei-me ficar
não me levantei
fiquei a ouvir e a sentir
a vida á minha volta
ouvir e sentir
foram os meus verbos
primeiro foram os sons
depois senti...frio
ouvi e senti
o pulsar da vida
do quarto
da casa
apercebo-me que
oiço e sinto
o que está lá fora também
a casa
começo a ser a casa
agora faço isto
todos os dias
nunca mais me levantei
já perdi a conta
aos dias que aqui estou
a ouvir a sentir
a casa
a ser a casa
sinto que deambulo
pela casa...
como fantasma?
talvez
agora sou a casa
a casa que viu
meu corpo deitar
e não mais levantar
não sei o que sou
mas sei o que fui

lá do alto vê-se melhor

no alto da alta escada
vê-se melhor

bem lá no alto
onde na verdade
podemos tocar nas nuvens
tomar-lhes o gosto
saboreá-las até
serão mesmo de algodão doce?
podemos lá viver?
sem correr o risco
de ficar-mos demasiado doces
a ponto de a pele estalar
como o melão mais doce

podemos ir?
se a doçura não fizer doer a barriga...