quarta-feira, 15 de agosto de 2012

moedas para o barqueiro

quem á margem chega
já o vê na espera
o barqueiro guardador de almas
ao coberto de seu manto
tecido com as mais frias
e negras noites
não permite vislumbrar
qualquer feição
apenas se lhe conhecem as mãos
antigas e possantes
que seguram o velho remo
maior que a própria barca
de proa iluminada pela candeia
sejam bem finados vindos
contudo que tragam a moeda
da travessia moribunda
pobres daqueles pobres
que sem moeda
perambulam condenados
cem vazios anos
as apinhadas margens
e os gritos gemidos
dos defuntos doridos

são almas
almas para o barqueiro

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

cabeça de gaivota

sento-me, e aprecio no ar um corpo que voa, ondulante
apenas um corpo, porque, no lugar da cabeça uma gaivota
sim, daqui de onde vejo a cabeça tem a forma de gaivota
de asas bem abertas, patas fundidas com o pescoço do corpo
não grasna, muito menos fala, apenas se afasta rapidamente
apenas mais um de mente livre, cortando o vento em busca de algo