és o poço que criaste
onde simplesmente nadas
nadas para não te afogares
nadas sem ter para onde ir
nadas para te manteres à tona
na esperança de que um dia
o poço seque
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
sábado, 24 de novembro de 2012
chorão
há quem diga que és triste
és mal amado
mal compreendido
julgam-te murcho
sem vida
acredito que és murcho
pelo peso dos bons momentos
que a tua sombra proporciona
não dás flor
não dás fruta
não faz mal
de ti
colhem-se aquelas memórias
de boas tardes passadas
a brincar
ou a arrulhar
com aquela menina
à tua sombra
imaginaram-se universos
criaram-se personagens
inventaram-se aviões
que te sobrevoaram
e depois partiram
para outros mundos
sem sair
da tua sombra primeva
começas a secar
formigas e outros invadiram-te
consomem-te do interior
se um dia secares por completo
até nada em ti estar verde
vou olhar-te com olhos de criança
e dizer
"é uma pena"
de mãos nos bolsos
irei embora
cheio do que de ti colhi
és mal amado
mal compreendido
julgam-te murcho
sem vida
acredito que és murcho
pelo peso dos bons momentos
que a tua sombra proporciona
não dás flor
não dás fruta
não faz mal
de ti
colhem-se aquelas memórias
de boas tardes passadas
a brincar
ou a arrulhar
com aquela menina
à tua sombra
imaginaram-se universos
criaram-se personagens
inventaram-se aviões
que te sobrevoaram
e depois partiram
para outros mundos
sem sair
da tua sombra primeva
começas a secar
formigas e outros invadiram-te
consomem-te do interior
se um dia secares por completo
até nada em ti estar verde
vou olhar-te com olhos de criança
e dizer
"é uma pena"
de mãos nos bolsos
irei embora
cheio do que de ti colhi
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
droga
não soubesse eu que estavas sobre o efeito de drogas, diria que a génese da tua existência a vês entediante, e buscas nesta droga algum fulgor, algum destédio, alguma improvisação, que droga esta? que te faz querer assim alguém, dizes que é a mais pura das drogas, porém não será a mais lícita, a mais legal, pois A desejas tão calorosamente, que puxas fogo a tudo o que te rodeia, elevando o Todo a Nada.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
cócegas
faço-me cócegas para rir e não chorar
peço-te cócegas para nos rirmos e não chorarmos
tens dedos firmes e decididos mas frágeis
na hora de me cocegares a barriga
enches-me a barriga de cócegas
apanho uma barrigada de cócegas
não aguento e urino-me
gozas mas também tu te urinas
unimo-nos nesta urina gargalhante
(urimo-nos) afogados no riso beligerante e tresloucado
peço-te cócegas para nos rirmos e não chorarmos
tens dedos firmes e decididos mas frágeis
na hora de me cocegares a barriga
enches-me a barriga de cócegas
apanho uma barrigada de cócegas
não aguento e urino-me
gozas mas também tu te urinas
unimo-nos nesta urina gargalhante
(urimo-nos) afogados no riso beligerante e tresloucado
sábado, 13 de outubro de 2012
tóxico e independentemente disso
sim és tu
meu cão da morte
devoras-me os amigos
afasta-os
leva-os contigo
pois eu já nem de mim
sou amigo
tornei-me veneno
tóxico e independentemente disso
ainda há quem
goste de mim assim,
não é meu amor?
meu cão da morte
devoras-me os amigos
afasta-os
leva-os contigo
pois eu já nem de mim
sou amigo
tornei-me veneno
tóxico e independentemente disso
ainda há quem
goste de mim assim,
não é meu amor?
a flor mais bela
dizem-te que és a flor mais bela
tens pesadelos com isso
e nos dias seguintes gozas
gozas com as pessoas que te chamam a flor mais bela
achas cliché, sentes que te tratam como tal
sentes-te um cliché
para tais pessoas cliché é bom
para ti torna-se pesadelo
mas,
quando estas sozinha no escuro do quarto
a chorar enquanto os teus pais se odeiam
lá fora
e tu, cá dentro
enrolada nos braços do medo
teu único amigo
sentes
não queres
mas sentes
a falta daqueles que te chamam
a flor mais bela
tens pesadelos com isso
e nos dias seguintes gozas
gozas com as pessoas que te chamam a flor mais bela
achas cliché, sentes que te tratam como tal
sentes-te um cliché
para tais pessoas cliché é bom
para ti torna-se pesadelo
mas,
quando estas sozinha no escuro do quarto
a chorar enquanto os teus pais se odeiam
lá fora
e tu, cá dentro
enrolada nos braços do medo
teu único amigo
sentes
não queres
mas sentes
a falta daqueles que te chamam
a flor mais bela
domingo, 7 de outubro de 2012
feronímia
sentado á secretária
vestindo um robe
apenas um robe
de órgão pendente
escrevo
sonetos desnudos
de todo e qualquer sentido
púb-l-ico
sonetos despornográficos
que falam de sorores
sedentas do amor
mas que guardam seus pudores
é a feronímia do ser
que só pensa em latejar
é apelativo ao pelativo
do fruto
a banana
vestindo um robe
apenas um robe
de órgão pendente
escrevo
sonetos desnudos
de todo e qualquer sentido
púb-l-ico
sonetos despornográficos
que falam de sorores
sedentas do amor
mas que guardam seus pudores
é a feronímia do ser
que só pensa em latejar
é apelativo ao pelativo
do fruto
a banana
domingo, 23 de setembro de 2012
casa em ti
chegaste ao ponto em que já não sabes o que é sair de casa
estás tão presa a ti, agarraste-te tanto a ti
já não sabes de que cor é a luz
já não sabes sequer se a luz tem cor
tudo o que vês é escuro, apenas os teus olhos
cinzentos esbatidos se reflectem no espelho da sala do teu consciente
na cave do teu subconsciente nunca entraste, tens medo
no sotão visitas as tuas recordações, e procuras sentimentos que perdeste
eles estão lá mas não os encontras
queres chorar, mas já não sabes como se faz
estás tão presa a ti, agarraste-te tanto a ti
já não sabes de que cor é a luz
já não sabes sequer se a luz tem cor
tudo o que vês é escuro, apenas os teus olhos
cinzentos esbatidos se reflectem no espelho da sala do teu consciente
na cave do teu subconsciente nunca entraste, tens medo
no sotão visitas as tuas recordações, e procuras sentimentos que perdeste
eles estão lá mas não os encontras
queres chorar, mas já não sabes como se faz
jardim
ao jardim vêm
os que procuram sentimentos
perdidos em visitas passadas
aqui ficam na noite
uivando cânticos
de olhos cintilantes
para ti são palavras soltas
musicadas, banais
são como farpas
nas mãos que levas ao peito
os que procuram sentimentos
perdidos em visitas passadas
aqui ficam na noite
uivando cânticos
de olhos cintilantes
para ti são palavras soltas
musicadas, banais
são como farpas
nas mãos que levas ao peito
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
moedas para o barqueiro
quem á margem chega
já o vê na espera
o barqueiro guardador de almas
ao coberto de seu manto
tecido com as mais frias
e negras noites
não permite vislumbrar
qualquer feição
apenas se lhe conhecem as mãos
antigas e possantes
que seguram o velho remo
maior que a própria barca
de proa iluminada pela candeia
sejam bem finados vindos
contudo que tragam a moeda
da travessia moribunda
pobres daqueles pobres
que sem moeda
perambulam condenados
cem vazios anos
as apinhadas margens
e os gritos gemidos
dos defuntos doridos
são almas
almas para o barqueiro
já o vê na espera
o barqueiro guardador de almas
ao coberto de seu manto
tecido com as mais frias
e negras noites
não permite vislumbrar
qualquer feição
apenas se lhe conhecem as mãos
antigas e possantes
que seguram o velho remo
maior que a própria barca
de proa iluminada pela candeia
sejam bem finados vindos
contudo que tragam a moeda
da travessia moribunda
pobres daqueles pobres
que sem moeda
perambulam condenados
cem vazios anos
as apinhadas margens
e os gritos gemidos
dos defuntos doridos
são almas
almas para o barqueiro
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
cabeça de gaivota
sento-me, e aprecio no ar um corpo que voa, ondulante
apenas um corpo, porque, no lugar da cabeça uma gaivota
sim, daqui de onde vejo a cabeça tem a forma de gaivota
de asas bem abertas, patas fundidas com o pescoço do corpo
não grasna, muito menos fala, apenas se afasta rapidamente
apenas mais um de mente livre, cortando o vento em busca de algo
apenas um corpo, porque, no lugar da cabeça uma gaivota
sim, daqui de onde vejo a cabeça tem a forma de gaivota
de asas bem abertas, patas fundidas com o pescoço do corpo
não grasna, muito menos fala, apenas se afasta rapidamente
apenas mais um de mente livre, cortando o vento em busca de algo
segunda-feira, 23 de julho de 2012
cova quente
é verão
e acendi a fogueira
onde repouso diante
ela, pálida a meu lado
cavei uma cova
geminada nas suas medidas
oitenta e seis
sessenta
oitenta e seis
ela, pálida mas aquecida
pela fogueira de verão
no espeto?
não, teu destino é ali
naquela cova
tem as tuas medidas
é a tua cara!
bebo-lhe mais um trago
desta bebida amarga
rotulada "ilusão"
e acendi a fogueira
onde repouso diante
ela, pálida a meu lado
cavei uma cova
geminada nas suas medidas
oitenta e seis
sessenta
oitenta e seis
ela, pálida mas aquecida
pela fogueira de verão
no espeto?
não, teu destino é ali
naquela cova
tem as tuas medidas
é a tua cara!
bebo-lhe mais um trago
desta bebida amarga
rotulada "ilusão"
sábado, 21 de julho de 2012
senhor nevoeiro
perdido
e por todos abandonado
calcorreia as serras
ao descer ao sopé de mais uma
vira-se para a contemplar
uma última vez
e vê
como uma mão que envolve
o alto em forma de concha
o senhor nevoeiro
descendo a serra
no seu encalço
até ao seu encontro
o errante
de hambres farto
tira-lhe o partido
e
cortando um naco
sacia sua fome
com um bife de nevoeiro
mais cru que a própria solidão
e por todos abandonado
calcorreia as serras
ao descer ao sopé de mais uma
vira-se para a contemplar
uma última vez
e vê
como uma mão que envolve
o alto em forma de concha
o senhor nevoeiro
descendo a serra
no seu encalço
até ao seu encontro
o errante
de hambres farto
tira-lhe o partido
e
cortando um naco
sacia sua fome
com um bife de nevoeiro
mais cru que a própria solidão
domingo, 6 de maio de 2012
deito-me
deito-me e levanto-me
faço-o todos os dias
mas naquele dia não
deixei-me ficar
não me levantei
fiquei a ouvir e a sentir
a vida á minha volta
ouvir e sentir
foram os meus verbos
primeiro foram os sons
depois senti...frio
ouvi e senti
o pulsar da vida
do quarto
da casa
apercebo-me que
oiço e sinto
o que está lá fora também
a casa
começo a ser a casa
agora faço isto
todos os dias
nunca mais me levantei
já perdi a conta
aos dias que aqui estou
a ouvir a sentir
a casa
a ser a casa
sinto que deambulo
pela casa...
como fantasma?
talvez
agora sou a casa
a casa que viu
meu corpo deitar
e não mais levantar
não sei o que sou
mas sei o que fui
faço-o todos os dias
mas naquele dia não
deixei-me ficar
não me levantei
fiquei a ouvir e a sentir
a vida á minha volta
ouvir e sentir
foram os meus verbos
primeiro foram os sons
depois senti...frio
ouvi e senti
o pulsar da vida
do quarto
da casa
apercebo-me que
oiço e sinto
o que está lá fora também
a casa
começo a ser a casa
agora faço isto
todos os dias
nunca mais me levantei
já perdi a conta
aos dias que aqui estou
a ouvir a sentir
a casa
a ser a casa
sinto que deambulo
pela casa...
como fantasma?
talvez
agora sou a casa
a casa que viu
meu corpo deitar
e não mais levantar
não sei o que sou
mas sei o que fui
lá do alto vê-se melhor
no alto da alta escada
vê-se melhor
bem lá no alto
onde na verdade
podemos tocar nas nuvens
tomar-lhes o gosto
saboreá-las até
serão mesmo de algodão doce?
podemos lá viver?
sem correr o risco
de ficar-mos demasiado doces
a ponto de a pele estalar
como o melão mais doce
podemos ir?
se a doçura não fizer doer a barriga...
vê-se melhor
bem lá no alto
onde na verdade
podemos tocar nas nuvens
tomar-lhes o gosto
saboreá-las até
serão mesmo de algodão doce?
podemos lá viver?
sem correr o risco
de ficar-mos demasiado doces
a ponto de a pele estalar
como o melão mais doce
podemos ir?
se a doçura não fizer doer a barriga...
terça-feira, 17 de abril de 2012
o poema
posso começar?
chama-se o poema
o poema
e é sobre
um poema
que foi pensado
há muito
muito tempo atrás
antes até
do próprio tempo
antes até de este
ter sido pensado
é um poema antigo
mais antigo
do que o próprio tempo
e o tempo
é bem antigo
mais antigo do que
as coisas todas
todas as coisas do mundo
sim este poema
fala do tempo
porque o tempo
pode ser um poema
o poema
mais antigo do que
todas as coisas do mundo
chama-se o poema
o poema
e é sobre
um poema
que foi pensado
há muito
muito tempo atrás
antes até
do próprio tempo
antes até de este
ter sido pensado
é um poema antigo
mais antigo
do que o próprio tempo
e o tempo
é bem antigo
mais antigo do que
as coisas todas
todas as coisas do mundo
sim este poema
fala do tempo
porque o tempo
pode ser um poema
o poema
mais antigo do que
todas as coisas do mundo
quinta-feira, 5 de abril de 2012
bife
divino prato
bife suculento
regado de molho
bem cremoso
acompanhado de arroz
e batatas fumegantes
não comi
mas vi comer
quando passava
roto e com frio
e parei
o meu carro de compras enferrujado
e olhei
pela janela do restaurante
"que delícia!"
repetia o meu estômago
sem parar
ao ver o bife
ter aquela relação
íntima com o garfo
e depois o garfo
ter aquela relação
íntima com o homem
e a fome
daquele homem
a ser saciada
com aquela orgia alimentar
cofio a barba
"tenho de ir
revirar mais
um caixote..."
bife suculento
regado de molho
bem cremoso
acompanhado de arroz
e batatas fumegantes
não comi
mas vi comer
quando passava
roto e com frio
e parei
o meu carro de compras enferrujado
e olhei
pela janela do restaurante
"que delícia!"
repetia o meu estômago
sem parar
ao ver o bife
ter aquela relação
íntima com o garfo
e depois o garfo
ter aquela relação
íntima com o homem
e a fome
daquele homem
a ser saciada
com aquela orgia alimentar
cofio a barba
"tenho de ir
revirar mais
um caixote..."
quarta-feira, 4 de abril de 2012
potencial anarca
oiço
"olá colega"
olho e sorrio levemente
para o tipo
da secretária ao lado
por dentro
das minhas amarras
faço-lhe cara feia
"apetece-me cuspir-te
na cara
bem na cara"
mostrar as minhas
partes traseiras
em vez de sorrisos
ao chefe
que me observa
de olhar controlador
através do vidro
entro-lhe no escritório
arranco-lhe a espinha dorsal
acerto-lhe com ela na cara
:limito-me a imaginá-lo.
a lei
a ordem
as regras
de calças em baixo
tenho um olhar traseiro
sobre elas
sou um potencial anarquista
comprimido ao meu fatinho
o meu fatinho
é mais uma camisa de forças
na realidade
aqui continuo
sentado à secretária
ou à espera na fila
subjugado por ela
a sociedade.
"olá colega"
olho e sorrio levemente
para o tipo
da secretária ao lado
por dentro
das minhas amarras
faço-lhe cara feia
"apetece-me cuspir-te
na cara
bem na cara"
mostrar as minhas
partes traseiras
em vez de sorrisos
ao chefe
que me observa
de olhar controlador
através do vidro
entro-lhe no escritório
arranco-lhe a espinha dorsal
acerto-lhe com ela na cara
:limito-me a imaginá-lo.
a lei
a ordem
as regras
de calças em baixo
tenho um olhar traseiro
sobre elas
sou um potencial anarquista
comprimido ao meu fatinho
o meu fatinho
é mais uma camisa de forças
na realidade
aqui continuo
sentado à secretária
ou à espera na fila
subjugado por ela
a sociedade.
segunda-feira, 5 de março de 2012
casulos
casulos de memórias
velhos, tão velhos
quanto o próprio tempo
esperam ser despertados
por estímulos presentes
esperam
até não o poderem mais
de tão gordos
estes casulos nostálgicos
e eclodem!
explosivamente rejubilantes!
pintando toda a mente
até aí vazia
escura
sombria
e sem cor
como a velha casa
que esconde, velha mobília
debaixo de lençóis
lençóis de esquecimento
velhos, tão velhos
quanto o próprio tempo
esperam ser despertados
por estímulos presentes
esperam
até não o poderem mais
de tão gordos
estes casulos nostálgicos
e eclodem!
explosivamente rejubilantes!
pintando toda a mente
até aí vazia
escura
sombria
e sem cor
como a velha casa
que esconde, velha mobília
debaixo de lençóis
lençóis de esquecimento
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
a rua é larga
encontrão daqui
pisam-me dali
sem dar conta sou levado
pela torrente de corpos
hipnotizados quiçá telecomandados
por seres que habitam
estes monstros
de ferro e betão
que me rodeiam
e que me encurralam o Ser
a rua é larga
mas torna-se estreita
quando tanta gente a frequenta
pisam-me dali
sem dar conta sou levado
pela torrente de corpos
hipnotizados quiçá telecomandados
por seres que habitam
estes monstros
de ferro e betão
que me rodeiam
e que me encurralam o Ser
a rua é larga
mas torna-se estreita
quando tanta gente a frequenta
la santa compaña
qualquer dia
vêm bater à porta
nem que sexa a morte
din que
batendo três veces
com a fouce
sendo o terceiro
com mais forza
é esse o sinal
com esta sequência
xa sabemos o que esperar
e baixando a cabeza
á fila de almas
que espera
pairando lá fóra
nos xuntamos
sem querer saber
o que dali esperar
vêm bater à porta
nem que sexa a morte
din que
batendo três veces
com a fouce
sendo o terceiro
com mais forza
é esse o sinal
com esta sequência
xa sabemos o que esperar
e baixando a cabeza
á fila de almas
que espera
pairando lá fóra
nos xuntamos
sem querer saber
o que dali esperar
não é a hora
uma velhota
bem velhota
mãos unidas, reza
ajoelhada, reza
reza para mais
não se aproximar
a morte
mas a morte
não se detém
e cada vez
mais perto
a velhota
reza, agora
reza, aos soluços
a morte
pára, não é
a hora da
velhota, a morte
a foice não afiou
bem velhota
mãos unidas, reza
ajoelhada, reza
reza para mais
não se aproximar
a morte
mas a morte
não se detém
e cada vez
mais perto
a velhota
reza, agora
reza, aos soluços
a morte
pára, não é
a hora da
velhota, a morte
a foice não afiou
embrião
baloiça na cadeira
sem saber que no ventre
o embrião da morte carrega
pútrido
e o silêncio
apenas cortado
pelo calmante
e bastante terapêutico
silvar do vento latente
sem saber que no ventre
o embrião da morte carrega
pútrido
e o silêncio
apenas cortado
pelo calmante
e bastante terapêutico
silvar do vento latente
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