sábado, 11 de junho de 2011

a morte saiu à rua

a morte saiu à rua
paira sobre o chão
na penumbra
pairando pelas sombras
com o seu manto negro
se move
negro de desejos
medonhos e frios
rosna e geme sons
sons macabros e mórbidos

das suas mil bocas negras
delas a saliva negra
o veneno
é um rasto que deixa
ao passar
nas pedras da calçada
é um rasto que deixa
ao passar

as paredes gelam
os corações param
os gatos negros pulam
contentes...
procura-te a morte
o espectro negro
de tão maligno
podes fugir
também te podes esconder
mas onde a escuridão estiver
a morte estará
para a alma te absorver

non nobis

cavaleiros da Ordem
não seriam mais de vinte
na terra seca
ouvem-se os cascos

no vento fresco
os gritos do inimigo
não seriam mais de trinta
os ditos infiéis

galopes secos
gritos ferozes
ecoam pela planície
aproximam-se as duas frentes
chovem já flechas e lanças
do lado da Cruz

pontas afiadas como diamante
penetram a malha de aço
enterram-se nas carnes
corpos rendem-se ao chão

colide a cavalaria
e o som
como dois trovões
que explodem ao se tocarem

lâminas cortam
o ar pesado
capacetes desfeitos
crânios são abertos
gritos
a constatação da dor

corpos dilacerados
enfeitam o descampado
de flechas cravadas nos peitos
são como flores
são flores da morte
que dos peitos brotam

quinta-feira, 9 de junho de 2011

manhã

acordo,
esfrego os meus pequenos olhos
sentado na cama,
enquanto calço os chinelos,
vou à casa de banho e
olho-me no espelho,
desato a rir,
pareço um chinês,
olhos pequeninos,
bocejo e sinto a água
fresca na cara.

percorro o corredor
direito à cozinha,
na cozinha a minha mãe
prepara-me o pequeno-almoço,
reparo que toda ela
se vestiu de negro, e
apanhou o cabelo,
mãe não fazes isso
só quando alguém morre?
não respondeu, pensei,
o pai já não aparece em casa há um mês.

à tarde no parque

um casal troca juras de amor
um puto atira pedras junto ao lago

Um homem passa

leva as mãos nos bolsos
muito curvado
em passo acelerado
anda como se corresse
corre como se andasse
curvado como se a força do sol o curvasse
olhos colados no chão
perdidos em pensamentos silenciosos
corre a andar

pergunto-lhe
porque andas a correr?