sábado, 24 de novembro de 2012

chorão

há quem diga que és triste
és mal amado
mal compreendido
julgam-te murcho
sem vida
acredito que és murcho
pelo peso dos bons momentos
que a tua sombra proporciona

não dás flor
não dás fruta
não faz mal
de ti
colhem-se aquelas memórias
de boas tardes passadas
a brincar
ou a arrulhar
com aquela menina

à tua sombra
imaginaram-se universos
criaram-se personagens
inventaram-se aviões
que te sobrevoaram
e depois partiram
para outros mundos
sem sair
da tua sombra primeva

começas a secar
formigas e outros invadiram-te
consomem-te do interior
se um dia secares por completo
até nada em ti estar verde
vou olhar-te com olhos de criança
e dizer
"é uma pena"
de mãos nos bolsos
irei embora
cheio do que de ti colhi

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

droga

não soubesse eu que estavas sobre o efeito de drogas, diria que a génese da tua existência a vês entediante, e buscas nesta droga algum fulgor, algum destédio, alguma improvisação, que droga esta? que te faz querer assim alguém, dizes que é a mais pura das drogas, porém não será a mais lícita, a mais legal, pois A desejas tão calorosamente, que puxas fogo a tudo o que te rodeia, elevando o Todo a Nada.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

cócegas

faço-me cócegas para rir e não chorar
peço-te cócegas para nos rirmos e não chorarmos

tens dedos firmes e decididos mas frágeis
na hora de me cocegares a barriga
enches-me a barriga de cócegas
apanho uma barrigada de cócegas
não aguento e urino-me
gozas mas também tu te urinas
unimo-nos nesta urina gargalhante
(urimo-nos) afogados no riso beligerante e tresloucado