segunda-feira, 28 de novembro de 2011

o meu sangue

olho o tecto branco
um pequeno ponto vagueia
um mosquito
coço o braço
e penso na picada
que me deste ontem á noite
sacana és um sacana
tinha a janela
apenas um bocadinho aberta
mas mesmo assim conseguiste

gordo cheio de sangue

o meu sangue

sinto que partilhamos algo
tens uma parte de mim

o meu sangue

não
não te vou tentar matar
esborrachar contra a parede
com uma palmada ou chinelada
não porque
sujava a parede branca
e ela foi pintada há dias
mas também porque
seria um desperdício
todo esse sangue
que roubaste
sem o meu consentimento
espalhado numa mancha
na parede
seria um desperdício

o meu sangue

saudades desconhecidas

cabelos longos
escuros ondulantes
lábios finos
pele branca
uma luz alva emana

é possível
sentir saudades
de alguém
que na verdade
não se conhece?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

vai saber-me bem

o sol já se põe
sinto na cara
seus últimos raios,
fracos mas quentes,
despede-se á medida
que se esconde,
ao longe
na grande azinheira

passos cansados
de mais um dia
de labuta,
vou deixando
meu rasto a cada passo,
pelo caminho levantam-se
pequenas nuvens de poeira,
como se pisasse poças de pó
e estas se evaporassem no ar

a metros do monte
os cães correm a receber-me
de caudas alegres,
dão voltas e voltas
ás minhas pernas
numa dança
que quase me faz cair

enfio o braço pelo postigo
abro a porta
e pouso a sacola,
cheiro a comida:
minha mulher na cozinha?
apenas lembranças

atiro-me para a cama
de barriga vazia,
dormir vai saber-me bem