quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

CONHECIDO O VENCEDOR DO CONCURSO ARTE ESCRITA DO CICLO CULTURAL DA UTAD

Porquificação

ornamentados
por personalidades,
humanos porquificados

não deixam de haver
aqueles menos interessados
que jogam outras vidas,
ao contrário
do patriarca que consente
e apoia a sarrabulhada
pautada por uma banda
afinada ao compasso
da fuga da manada
que corre ao desencontro
do canibal fratricídio

mas amam-se
nesta última ceia
irmãos desta pocilga,
a sociedade.


"O poema “Porquificação” foi o texto vencedor do concurso de Arte Escrita do Ciclo Cultural da UTAD, que foi divulgado ontem pelas 11 horas no Complexo Pedagógico.

Bruno Rodrigues, aluno do 3º ano de Línguas e Relações Empresariais, foi o vencedor deste concurso, que teve assim a oportunidade de adquirir uma obra á sua escolha do Pintor amarantino Fernando Barros.

A inspiração para a elaboração do poema centrou-se “na sociedade”, referiu Bruno Rodrigues.

O pintor amarantino Fernando Barros afirmou que queria principalmente “sentir o pulsar da juventude e o que pensam relativamente a esta área especifica arte, a pintura” por isso é que decidiu atribuir um quadro da sua obra ao vencedor."


http://cicloculturalutad.blogspot.com/2011/12/concurso-arte-escrita-porquificacao.html

http://akademia.comunicamos.org/cultura/conhecido-o-vencedor-do-concurso-arte-escrita/

http://www.utad.pt/pt/utadtv/jo/7dez2011.html

.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

o meu sangue

olho o tecto branco
um pequeno ponto vagueia
um mosquito
coço o braço
e penso na picada
que me deste ontem á noite
sacana és um sacana
tinha a janela
apenas um bocadinho aberta
mas mesmo assim conseguiste

gordo cheio de sangue

o meu sangue

sinto que partilhamos algo
tens uma parte de mim

o meu sangue

não
não te vou tentar matar
esborrachar contra a parede
com uma palmada ou chinelada
não porque
sujava a parede branca
e ela foi pintada há dias
mas também porque
seria um desperdício
todo esse sangue
que roubaste
sem o meu consentimento
espalhado numa mancha
na parede
seria um desperdício

o meu sangue

saudades desconhecidas

cabelos longos
escuros ondulantes
lábios finos
pele branca
uma luz alva emana

é possível
sentir saudades
de alguém
que na verdade
não se conhece?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

vai saber-me bem

o sol já se põe
sinto na cara
seus últimos raios,
fracos mas quentes,
despede-se á medida
que se esconde,
ao longe
na grande azinheira

passos cansados
de mais um dia
de labuta,
vou deixando
meu rasto a cada passo,
pelo caminho levantam-se
pequenas nuvens de poeira,
como se pisasse poças de pó
e estas se evaporassem no ar

a metros do monte
os cães correm a receber-me
de caudas alegres,
dão voltas e voltas
ás minhas pernas
numa dança
que quase me faz cair

enfio o braço pelo postigo
abro a porta
e pouso a sacola,
cheiro a comida:
minha mulher na cozinha?
apenas lembranças

atiro-me para a cama
de barriga vazia,
dormir vai saber-me bem

domingo, 23 de outubro de 2011

senhora dos cabelos italianos II

finos e elegantes cabelos
italianos, ondulantes,
sopra-lhes o vento
e dançam feitos
chorões frescos, numa
tarde domingueira,
neste parque
em que passeio, e
me lembro
da senhora dos cabelos italianos

senhora dos cabelos italianos I

nesta tarde domingueira
em que fumo
mais um cigarro,
na varanda de casa
lembro-me,
da senhora dos cabelos
italianos, revejo-os
aqui, no vento
fresco e reconfortante,
saboroso
de travo salgado
e cheiro a mar

o céu perdeu a cor

o céu mudou de cor
nem azul
tão-pouco cinzento

as pessoas
como que afectadas
pelo inesperado acontecimento
deambulam moles pelas ruas

o céu perdeu a cor
será este
o presságio da dor

sábado, 23 de julho de 2011

momentum

entornada no solo,
dormente,
são vitais
os únicos sinais
que se te distinguem,
és uma massa indefinida
e viva, respiras e pulsas
sim, não és pedra
mas estás fria

sábado, 11 de junho de 2011

a morte saiu à rua

a morte saiu à rua
paira sobre o chão
na penumbra
pairando pelas sombras
com o seu manto negro
se move
negro de desejos
medonhos e frios
rosna e geme sons
sons macabros e mórbidos

das suas mil bocas negras
delas a saliva negra
o veneno
é um rasto que deixa
ao passar
nas pedras da calçada
é um rasto que deixa
ao passar

as paredes gelam
os corações param
os gatos negros pulam
contentes...
procura-te a morte
o espectro negro
de tão maligno
podes fugir
também te podes esconder
mas onde a escuridão estiver
a morte estará
para a alma te absorver

non nobis

cavaleiros da Ordem
não seriam mais de vinte
na terra seca
ouvem-se os cascos

no vento fresco
os gritos do inimigo
não seriam mais de trinta
os ditos infiéis

galopes secos
gritos ferozes
ecoam pela planície
aproximam-se as duas frentes
chovem já flechas e lanças
do lado da Cruz

pontas afiadas como diamante
penetram a malha de aço
enterram-se nas carnes
corpos rendem-se ao chão

colide a cavalaria
e o som
como dois trovões
que explodem ao se tocarem

lâminas cortam
o ar pesado
capacetes desfeitos
crânios são abertos
gritos
a constatação da dor

corpos dilacerados
enfeitam o descampado
de flechas cravadas nos peitos
são como flores
são flores da morte
que dos peitos brotam

quinta-feira, 9 de junho de 2011

manhã

acordo,
esfrego os meus pequenos olhos
sentado na cama,
enquanto calço os chinelos,
vou à casa de banho e
olho-me no espelho,
desato a rir,
pareço um chinês,
olhos pequeninos,
bocejo e sinto a água
fresca na cara.

percorro o corredor
direito à cozinha,
na cozinha a minha mãe
prepara-me o pequeno-almoço,
reparo que toda ela
se vestiu de negro, e
apanhou o cabelo,
mãe não fazes isso
só quando alguém morre?
não respondeu, pensei,
o pai já não aparece em casa há um mês.

à tarde no parque

um casal troca juras de amor
um puto atira pedras junto ao lago

Um homem passa

leva as mãos nos bolsos
muito curvado
em passo acelerado
anda como se corresse
corre como se andasse
curvado como se a força do sol o curvasse
olhos colados no chão
perdidos em pensamentos silenciosos
corre a andar

pergunto-lhe
porque andas a correr?

terça-feira, 8 de março de 2011

hormonas danças

bacamarte
esperando a encantadora
de serpentes
que o fita com o olhar
já se escorrendo
quere-o deseja-o

toca-se

entre as pernas
como coração pulsante
segrega desejo

geme

'fode-me'
louco a agarra
a encosta á parede
ergue-a e a presenteia
por várias vezes
numa dança ritmada
e sincronizada

ali ficam
até que menos hormónicos
e sem fôlego
se deixam cair
liquidamente no chão

vermelho desamor

pincelas na mente
um quadro pintado a sangue
de teu coração esventrado
a paleta
a cor é única vermelho desamor

olhas atrás
sim sei que
careces de tudo isso
do feito e não feito
dito e não dito

pincelas um pouco mais
realça ali
não fodas o quadro
olha atrás um pouco mais
realça aí
não fodas também o quadro

domingo, 27 de fevereiro de 2011

monstrinhos

guardo monstrinhos
peludinhos, gordinhos e feinhos
dentro de caixinhas
no peito guardo monstrinhos
pequeninos monstrinhos
que fumam cigarrinhos

sensual inebriante

casal inebriado
pelo odor sensual
pelos dois emanado
embebido em embriaguez

desarrolhemos mais uma botella
em êxtase sexual
e o néctar conhece o solo
bebamos pois do chão
como gatos
nus e ronronantes

amam-se e consomem-se como animais
no chão agora também embriagado
pelos dois infectado
divinos seres sexuais

cães uivantes

sete cães
ali
deitados contando estrelas
sete reles cães uivantes
ali
deitados de barrigas inchadas
olhando o manto nocturno
de
barrigas gordas de sonhos
olham babados e inchados
de
barrigas cheias de nada

domingo, 6 de fevereiro de 2011

corredor

corredor que corre
apenas corre
sente o vento na cara
nos lábios um travo a natureza
emanado pela bondosa floresta
isso o faz sentir bem
poderia ali viver
a correr
tendo-a a ela
como única companhia
ela que o faz sentir pleno
que lhe alimenta o ser
bastando a presença dela
em seu redor

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

árvore

habitam no seu peito
medonhas criaturas que
lhe devoram as entranhas
são como máquinas
inquietas e estridentes

angustiado

crava as unhas no peito
abre-o com ardor
de lá uma pequena árvore sai
suas pequenas raízes
logo se apressam a agarrar
a terra macia
ele alimenta-a depois
ali sentado regando-a sempre
sempre que sente seus lábios secarem

tempo passa

depressa se torna uma árvore
uma árvore como já teve
frondosa e carregada de frutos
agora paciente resta-lhe esperar
esperar por Ela
que venha colher
os frutos renovados

domingo, 30 de janeiro de 2011

silenciosamente

jaz teu corpo na cama
silencioso porém vivo
levantas-te preguiçoso
caminhas a custo
custo tal que a sentes
iminente a cada passo moribundo
expulsas então teus fluidos bocejando
regressas
e deixas cair morto
teu corpo sobre a cama

sábado, 8 de janeiro de 2011

tenho fome

queixo apoiado nos braços cruzados
debruçado sobre a mesa de jantar
tenho fome...
já revistei o frigorífico:
leite azedo e queijo bolorento
tenho fome...
como mais uma bolacha
das que encontrei debaixo do sofá
continuo com fome...

o joão mia
e sobe para a mesa
tem fome...
toma joão uma bolacha
come-a tu diz ele
é esquisito o cabrão
mesmo com fome...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011