segunda-feira, 23 de julho de 2012

cova quente

é verão
e acendi a fogueira
onde repouso diante
ela, pálida a meu lado

cavei uma cova
geminada nas suas medidas
oitenta e seis
sessenta
oitenta e seis

ela, pálida mas aquecida
pela fogueira de verão

no espeto?
não, teu destino é ali
naquela cova
tem as tuas medidas
é a tua cara!

bebo-lhe mais um trago
desta bebida amarga
rotulada "ilusão"

sábado, 21 de julho de 2012

senhor nevoeiro

perdido
e por todos abandonado
calcorreia as serras
ao descer ao sopé de mais uma
vira-se para a contemplar
uma última vez
e vê
como uma mão que envolve
o alto em forma de concha

o senhor nevoeiro

descendo a serra
no seu encalço
até ao seu encontro

o errante
de hambres farto
tira-lhe o partido
e
cortando um naco
sacia sua fome
com um bife de nevoeiro
mais cru que a própria solidão